Passados 48 anos, no dia 28 de março de 1968, a ditadura civil militar fascista assassinava o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto de apenas 17 anos no restaurante estudantil Calabouço¹, no Flamengo, Rio de Janeiro. Edson, filho de lavadeira, nasceu em Belém do Pará em 1950 e se mudou para o Rio de Janeiro para cursar o segundo grau, assim como muitos jovens seu sonho era cursar engenharia para dar uma condição digna a sua família.
Edson era um jovem pobre, morava na Zona Oeste do Rio de Janeiro e para ganhar um dinheiro extra, engraxava os sapatos dos colegas mais abastados e limpava o restaurante. As turmas da escola onde Edson Luís estudava, o Instituto Cooperativo de Ensino, era formada majoritariamente por estudantes pobres e se situava atrás do restaurante Calabouço. Os militares apelidaram a escola de “Instituto Comunista de Ensino” pelas lutas que os estudantes travavam dentro do “Calaba” por melhorias nas refeições servidas e pela conclusão das obras no local. As agitações eram organizadas pela União Metropolitana dos Estudantes (UME) e Frente Unida dos Estudantes do Calabouço (FEUC) que tinham suas sedes dentro do próprio restaurante.
Após grandes manifestações dentro do restaurante pela melhoria da qualidade dos alimentos servidos e pelo fim das obras, a ditadura percebeu que o local virara um centro de lutas pela redemocratização do país, o fim do acordo MEC-USAID², mais investimento na educação e agitação comunista.
Em 1967 o restaurante passou ao domínio da ditadura militar (antes era da UME) e com isso sofreu um aumento absurdo no preço, mais uma vez os estudantes agiram e organizaram no dia 28 de março de 1968 uma manifestação relâmpago na rua que se situava o Calabouço. Utilizando bombas os militares tentaram dispersar cerca de 800 estudantes que revidavam atirando pedra e qualquer utensilio que pudesse ser atirado contra a repressão. Decidindo recuar, todos os estudantes decidiram se abrigar dentro do Calabouço. Os militares invadiram o restaurante atirando para todo o lado, as balas acertaram os corpos de 7 jovens, cinco ficaram feridos e dois mortos. Benedito Frazão foi um dos atingidos e morreu no hospital, outro foi Edson, que levou um tiro de uma pistola 45 mm no peito à queima-roupa e morreu na mesma hora.
Com medo de que os militares ocultassem o corpo sem vida, os estudantes, militantes e companheiros de Edson não permitiram que seu corpo fosse levado. Foi decidido que o corpo seria velado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, hoje Câmara dos Vereadores na Cinelândia. Dai então se partiu em passeata até ALERJ, onde foi velado o corpo. O velório foi cercado pela PM, agentes do DOPS e militares que provocavam os manifestantes com bombas de gás.
No dia do enterro, 50 mil pessoas saíram às ruas em homenagem a Edson Luís e protestaram contra a repressão do regime militar. A palavra de ordem que se espalhou em faixas, cartazes e na boca do povo carioca era “Mataram um estudante. Podia ser seu filho!”. Os militares, sem condições de reprimir a manifestação, tentaram escondê-la. As luzes da cidade não foram acesas naquele fim de tarde, mas mesmo assim os motoristas acendiam os faróis dos carros, comerciantes davam velas e lanternas para a população continuar o cortejo.
Nos sete dias que separaram o enterro e a missa de sétimo dia, manifestações foram organizadas em todo o país. Em São Paulo, quatro mil estudantes fizeram uma manifestação na Faculdade de Medicina da USP. Em Goiás e no Distrito Federal, estudantes foram baleados em protestos, sendo que dois foram mortos.
Na Igreja da Candelária, na manhã do dia 4 de abril, centenas de pessoas lotaram a igreja para celebrar a missa de sétimo dia. Outra missa estava marcada para o mesmo dia à noite. O governo proibiu sua realização, mas o vigário geral do Rio de Janeiro, Dom Castro Pinto, a realizou. A celebração reuniu cerca de 600 pessoas e dessa vez a Polícia Militar preparou uma repressão nunca vista durante um missa. Segundo relatos, do lado de fora da igreja havia três fileiras de soldados a cavalo com os sabres, um Corpo de Fuzileiros Navais mais atrás e vários agentes do DOPS. Findada a missa, os padres que a celebravam pediram que ninguém saísse da igreja, já que se previa um novo massacre. Os clérigos, então, saíram na frente de mãos dadas e fizeram um corredor entre os policiais e os que saíam da igreja, para que não fossem atacados pela polícia. A medida evitou o massacre ali, mas os militares esperaram que todos os manifestantes saíssem para que fossem encurralados nas ruas da Candelária. Novamente foram dezenas de pessoas feridas.
A morte de Edson Luís serve até hoje como exemplo da luta revolucionária da juventude contra os mandos e desmandos dos capitalistas. É preciso que nós, militantes da UESPE, apoiadores e pessoas sensíveis às vítimas da ditadura lotemos as ruas em defesa da Memória, da Justiça e da Verdade! Devemos encher as ruas exigindo a prisão dos assassinos, torturadores e financiadores do regime militar.
Os corpos de Edson Luís, Manoel Lisboa, Marcos Nonato, Jonas José de Albuquerque, José Montenegro de Lima não existem mais, contudo seu sangue, indignação e luta regam o ímpeto da juventude revolucionária brasileira.
EDSON LUÍS, PRESENTE, PRESENTE, PRESENTE!
Um comentário:
Qual a posição da UESP frente as ocupações que estão acontecendo em todo país, principalmente no Paraná?
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